Essa é uma pergunta muito comum e te digo uma coisa: é aí que você mais precisa se preocupar em investir.
Na época das cavernas, em que o homem era barbudão não por estilo, mas porque não existia lâmina de barbear mesmo, as pequenas comunidades espalhadas por esse mundão viviam da caça.
Os homens saíam com suas lanças, arcos e flechas atrás de animais que pudessem virar alimento depois.
Por melhor que fosse o grupo de caça, não havia nenhuma garantia de que a próxima refeição estava garantida. Os animais podiam fugir, a disparo da lança poderia sair errado e alguns dias sem comer viriam por aí, até que a próxima caça fosse bem sucedida.
Será que ninguém pensou, naquela época, em estocar comida?
“Vinicius, seu trouxa, não existia geladeira!”
Ah, verdade. Tudo bem então.
Hoje porém, é bem diferente. Você quer comer, vai até a geladeira e pega algo. Você tem um estoque para não passar fome até a próxima ida ao mercado.
Você tem um mínimo planejamento em relação à sua comida. E isso tem tudo a ver com como você lida com seu dinheiro.
Será que funciona para você?
Essa história me veio à cabeça depois de uma conversa com uma amiga, que me trouxe a seguinte pergunta:
Isso me fez pensar: quem não tem um salário fixo é a pessoa que talvez mais precise se preocupar em ter uma reserva de dinheiro. O pagamento recebido após um trabalho como freelancer, por exemplo, é o resultado da caça, e ele precisa durar até a próxima empreitada.
Assim como você estoca comida, deveria estocar o seu dinheiro. Não na poupança, mas em algum investimento de fácil acesso e que te ajude a ter melhores benefícios.
Se ter um salário fixo não é o seu caso, então esse artigo é exatamente para você.
O freelancer é o caçador dos tempos modernos
O raciocínio vale para quem empreende também. Se você não tem a certeza de que todo mês pinga um salário na sua conta, é hora de se planejar bem.
A analogia com a caça funcionou muito bem para mim quando eu buscava entender como empreender e ao mesmo tempo me sustentar sem ter uma noção exata de quando a próxima entrada de grana aconteceria.
Por isso, cada novo trabalho realizado era uma nova caça. Uma caça em busca do dindin para os próximos meses.
Assim como a vida moderna trouxe a geladeira e agora é possível guardar o alimento para mais tarde, também os investimentos evoluíram para permitir que tenhamos nossa reserva de segurança.
Aliás, quero voltar rapidinho à pergunta que motivou esse texto. Normalmente, o que passa pela nossa cabeça é que a palavra investir significa tomar riscos, comprar ações e por aí vai.
Na verdade, não é só isso. Antes de qualquer coisa, investir é um ato de cuidado com seu dinheiro. E isso pode acontecer de uma forma tão segura quanto você queira.
Portanto, minha resposta imediata é: sim, investir é para você que não tem salário fixo.
Para pensar melhor em como colocar isso em prática, vamos precisar responder a 3 perguntas.
Pergunta #1: Quanto $ entrou no último trabalho?
Investir passa necessariamente por entender o fluxo da sua grana e se planejar. Então, você precisa saber quanto dinheiro recebeu pelo último trabalho.
Aqui é como o período de caça. Essa grana precisa durar até a próxima caçada.
Como exemplo, vamos considerar que você ganhou R$5.000,00 no último job.
Por esse motivo, precisaremos focar na próxima pergunta para ter uma visão mais clara de como podemos nos sustentar até a próxima entrada de dinheiro.
Pergunta #2: Quanto eu gasto por mês para sobreviver?
Pode ser que você nunca tenha parado para colocar no papel (ou no app) seus gastos básicos e, por isso, não tenha a mínima ideia de quanto precisa para sobreviver.
Mas essa não é uma tarefa complicada. Pegue um papel e um lápis e tente anotar:
- Quanto você paga de aluguel?
- Quanto gasta de supermercado a cada mês?
- Quanto você paga de gasolina/transporte para meu deslocamento do dia-a-dia?
- Em quanto ficam as contas da casa?
Você pode adicionar o retirar perguntas da lista acima. O importante é achar o valor, pelo menos aproximado, para cada um dos seus gastos básicos.
Vale lembrar que o gasto com cerveja não é básico, então não entra na conta hein.
Ufa!
Vamos supor que seu custo de vida esteja em R$1.500,00.
Falta agora uma última pergunta.
Pergunta #3: Quanto tempo eu demoro até conseguir um novo trabalho e receber por ele?
Aí o bixo pega. Para a maioria das pessoas que trabalham por conta própria, essa não é uma pergunta trivial.
Não é só querer o dinheiro que ele vem correndo pros seus braços. Depende de fatores como o tipo de trabalho que você conseguirá, para quem vai prestar o serviço, quanto tempo demora para executar, entre outros fatores.
Mas, pela sua experiência pessoal, você consegue estimar um número.
Para o nosso exemplo, vamos considerar 3 meses.
Hora de misturar os ingredientes
Beleza, agora é hora de fazer algumas continhas. Se eu você ganhou R$5.000,00 pelo último trabalho e gasta R$1.500,00 por mês para se manter, então até a próxima provável entrada de caixa, daqui 3 meses, você gastará R$4.500,00 para sobreviver.
Isso te deixa com R$500,00 que podem ser usados para outros fins.
“Ótimo, vou gastar tudo em chocolate!”
Miga, sua loca!
Calma lá. Quinhentos reais em chocolate é muita coisa. Não seria uma boa guardar esse dinheiro?
E se aqueles três meses que você considerou como o tempo pra ganhar uma grana de novo se transformarem em mais tempo?
Pois é, por esse motivo é que você precisa se preocupar em ter uma gordurinha (de dinheiro, e não fruto do chocolate).
Não é só fazer sobrar sempre
Agora, o pulo do gato é: você precisa não só se preocupar em fazer com que o saldo seja positivo entre o que você ganhou com o último job e quanto você gasta por mês até o próximo, mas também em dar um bom destino a esse dinheiro.
É claro que o objetivo de qualquer pessoa é não só pagar as contas e comprar comida, mas também poder sair de vez em quando, pegar um cinema, ir ao bar com os amigos e, quem sabe, fazer alguns planos maiores para o futuro.
Por isso, é importante pensar com carinho em o que fazer com aqueles R$500,00 que você conseguiu guardar.
Não existe fórmula pronta, mas uma receita bastante saudável é usar uma parte para cobrir gastos pontuais (aquela breja com a galera no sábado) e religiosamente guardar a outra parcela para investir.
E onde investir?
Uma coisa é certa para quem não tem um salário fixo: nem tudo é previsível. Portanto, não é uma boa colocar o dinheiro em investimentos com baixa liquidez (aqueles em que é difícil resgatar o dinheiro a qualquer momento).
Qual é o caminho então? Investimentos de boa liquidez, como o Tesouro Selic, CDBs com liquidez diária e Fundos DI.
Esses podem funcionar como sua poupança melhorada e garantir sua reserva de emergência.
Lembre-se: não adianta guardar uma bolada para daqui a 20 anos se você não conseguir pagar as contas hoje.
A partir do momento em que você conseguir uma quantia considerável como reserva de emergência, é hora de partir para objetivos de prazo maior.
Aí então faz sentido pensar em investimentos para daqui alguns anos, para objetivos específicos, com uma viagem, um carro ou até mesmo aposentadoria.
Se eu tivesse que dar um único conselho para você que não tem renda recorrente, eu diria: poupe aquilo que conseguir e invista, pois isso fará toda diferença no futuro (próximo).
Até a próxima!
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