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Robô Advisor: Não Deixe a Preguiça Dominar Você

Por
30 de janeiro de 2017
7 minutos de leitura
3 comentários

Você gosta de ter o controle sobre suas decisões? E quando elas têm a ver com o seu dinheiro?

Paulo é um série-maníaco, daqueles que chega atrasado no trabalho porque ficou até às 4h da manhã para terminar aquela série que acabou de sair no Netflix. Toda vez que ele acessa, algumas séries e filmes são recomendadas. Ele fica impressionado com a qualidade das recomendações, porque parecem ser aquilo que ele curte assistir.

Até que depois de assistir a alguns episódios, o Paulo percebeu que uma das recomendações não parecia tão bacana. Ele pensou “putz, nessa o Netflix errou, será que ele realmente me conhece?”. Nosso amigo achou melhor então escolher por conta própria.

Pode parecer que o Netflix não tenha nada a ver com investimentos, mas podemos tirar algumas lições valiosas dele.

Você começa a ler sobre investimentos e decide que é hora de cuidar melhor do seu dinheiro. Então vê no Facebook a propaganda de uma empresa que usa robôs para escolher para você a melhor forma de aplicar essa grana. Você pensa “opa, perfeito! Não vou precisar me preocupar com isso”.

Aí é que você se engana. Esse pode ser um erro fatal para seus investimentos. Pode ser mais furada do que aquela série que não era bem a cara do Paulo.

Por isso, hoje percebo que a solução dos chamados robôs advisors não é tão boa assim e vou explicar o porquê.

Por aqui iremos discutir dois pontos muito importantes:

  • Os pontos negativos de investir por um robô.
  • Os pontos que dizem ser positivos, mas não são.

 

O que é um Robô Advisor?


Quando ouço falar de robôs que ajudam a gente, penso muito nos Jetsons e, principalmente, na Rosie. Por outro lado, eu sei que não é bem só isso que caracteriza um robô.

No caso citado aqui, os robôs advisors são algoritmos para alocação de recursos. Basicamente um programa de computador que decide por você onde investir.

É nisso que consiste o problema.

Robô Advisor - Rosie

 

Problemas com os robôs advisors


Robô Advisor: Problemas

1 – Conflito de interesses

Esse quesito é o que me deixa mais com o pé atrás quanto a um robô advisor. Atualmente no Brasil, temos 3 empresas mais conhecidas que possuem esse tipo de tecnologia e uma corretora com o seu próprio sistema.

Esse é meu ponto de atenção, apesar de as empresas apenas rentabilizarem com o percentual pago pelos clientes, elas estão ligadas diretamente às corretoras e não conseguem oferecer produtos que não estejam nessa corretora.

Isso faz com que o seu assistente para investimentos seja enviesado e apenas possa oferecer os produtos que aparecem para ele na corretora.

Além disso, existem os casos de robôs que oferecem produtos que eles mesmos gerem.

Recentemente a CVM lançou uma norma (a Instrução 555) que autoriza a mesma empresa que administre um fundo possa distribuí-lo. Foi então que a empresa Oi Warren se lançou no mercado com cinco fundos de investimentos administrados e recomendados por ela própria.

Isso é muito nocivo para o investidor, que novamente fica preso somente aos produtos que o robô pode ver. Além de gerar um grande conflito de interesses, pois mesmo que o fundo de investimentos vá mal, vão continuar recomendando ele para você, por ser o da casa.

 

2 – Personalização limitada

Os robôs são programados para criar melhor carteira de investimento. Porém, na verdade, eles têm algumas carteiras já pré-estabelecidas e dependendo do seu perfil eles recomendam ela para você.

Imagine que eu tenha um pacote com 4 ou 5 carteiras diferentes, em que cada carteira exista de 2 a 6 produtos e eu ofereça essas carteiras para meus clientes. Essa é a dinâmica por trás do algoritmo.

Se você achou isso simplista, vem mais por aí. Para definir o perfil do investidor, o robô apenas quer saber a sua idade, se você acha que sabe de investimentos, se prefere ganhar mais ou não quer perder e por aí vai.

Dado isso, ele traça o seu perfil e oferece para você uma das carteiras pré-programadas dele.

Ora, se nem eu entendo meu perfil e sei que ele pode mudar constantemente, como um robô vai conseguir fazer isso? Por uma aproximação? Se for assim, você consegue fazer muito melhor.

 

3 – Limitação do serviço à gestão de carteira

Logo quando você decide investir, o primeiro passo é economizar, pois só assim vai ter dinheiro para pensar no futuro.

Já a Rosie dos investimentos não vai saber disso, os robôs advisors apenas se limitam à sua gestão de carteira e alocação. Não levam em conta suas vontades pessoais momentâneas e nem sabem como é fácil ou difícil para você economizar uma certa quantia.

Se no início do questionário você respondeu que consegue economizar R$1.000 todo mês, não adianta avisar que esse mês não vai dar. A projeção foi feita baseada nesse valor, o robô não sabe que esse mês você arranhou o carro ou teve que visitar um familiar que mora longe.

Ele não entende quem realmente você é.

 

4 – Diversificação mínima

Por ter carteiras já pré-estabelecidas com produtos como Tesouro Direto, ETFs e CDBs, os robôs não sugerem ações de empresas específicas. Você sempre ficará ligado a essa mesma carteira, somente alterando o percentual de cada ativo.

Não será possível capturar grandes ganhos que determinada ação venha a ter, porque isso não será sugerido para você.

O robô advisor apenas vai diversificar naquilo que ele conhece, pois ele é bom em reconhecer e reproduzir padrões, não em ser outsider.

Se for para investir nesses nomes que citei, faça por conta própria, você tem capacidade para isso. Você só precisa de conhecimento e isso nós podemos te dar.

 

5 – Falta de conhecimento dos produtos por quem investe

Essa cutucada vai para você que investe por meios desses robôs. Quando você delega para outra pessoa fazer os investimentos por sua conta, você abre mão das responsabilidades diretas pelos ganhos e pelas perdas.

No entanto, indiretamente a responsabilidade é sua. Mais que isso, a responsabilidade vai ser sempre sua.

Quando outra pessoa (ou coisa) assume sua posição na hora de investir, você deixa de aprender a investir por conta própria.

Além disso, se os rendimentos forem bons ou ruins, você não vai saber se poderiam ser melhores, porque não tem conhecimento suficiente para contestar o robô.

Mas Andre, eu tenho preguiça e acho que um robô seria a melhor solução para mim”

Então perca a preguiça, porque não é o robô que vai assumir o ônus ou o bônus das escolhas que ele fizer, é você.

Além dos pontos negativos que eu citei acima, muito do que se fala sobre esses assistentes são seus pontos positivos. Só que eu não concordo com nenhum deles e justifico isso.

 

O que dizem de bom, mas não é essa coca-cola toda.


 Robô Advisor: Pontos Positivos

1 – Custos inferiores aos serviços de consultoria financeira

Claro que são. O serviço de consultoria financeira pessoal é um produto premium e por isso tem custos elevados, mas não podemos comparar esses dois tipos de serviços.

Como falei, o robô apenas tem algumas carteiras já selecionadas e indica para você uma delas a partir de um questionário básico.

Um consultor financeiro é uma pessoa que vai ouvir você, entender suas necessidades específicas. Vai buscar entender suas metas pessoais, seus gastos, suas fraquezas financeiras, para então elaborar um plano para você.

Obviamente, o custo do robô é inferior, mas se for por esse lado, um Gol é mais barato que uma Ferrari.

 

2 – Não há vieses cognitivos na tomada de decisão dos investimentos

Vieses cognitivos são as tendências de pensar de certa maneira, que podem levar a erros de lógica e de conclusão. É uma característica humana que pode levar ao conhecido “efeito manada” e outros erros na hora de investir.

Realmente, o robô advisor pode não cometer esse tipo de erro. No entanto, isso só acontece porque ele não é humano. Bem aí que mora o perigo. Por não ser humano, ele também não leva em consideração aspectos humanos na tomada de decisão na hora de investir.

Um dos maiores perigos dessa “cegueira” dos robôs está em algo muito comum no universo dos investimentos: acontecimentos inesperados.

Um robô não pode prevê-los e é claro que você também não. Ninguém pode prever o imprevisível. Mas eu e você, enquanto humanos, com senso crítico, podemos nos proteger e até ganhar muito com isso. É o que propõe Nassim Taleb, em suas teses sobre antifragilidade e estratégias de investimento.

Se um evento inesperado acontecer a causar pânico no mercado, como uma grande crise, muito possivelmente o robô só vai reagir depois que muitos outros investidores já tiverem tomado uma atitude. Ele pode sim, então, entrar num efeito manada e dar um fim na sua grana.

Tenso, não?

Então o robô advisor não é bom e nenhuma situação? ”

Pode me chamar de radical, mas não, não indico os robôs em nenhuma situação.

Pode ser que você ache muito cômodo porque não toma seu tempo. Com isso você delega e paga para alguém cuidar do SEU dinheiro.

Bem mais que isso, você está delegando o seu futuro a uma máquina que não tem o mínimo de empatia por qualquer que seja sua situação.

Por isso acredito que o melhor caminho é a educação financeira. Nós do investeaê estamos comprometidos com essa missão.

Queremos que você aprenda a investir cedo e com segurança, para não ter medo do futuro e sim aproveitá-lo.

Grande abraço e até a próxima.

Sobre o Autor:

Desde o terceiro ano de faculdade decidiu que mais importante do que se formar em Engenharia era se tornar um empreendedor. Por isso participou de várias iniciativas e em uma delas foi mentorado por um ano pelo board de Healthcare da General Eletrics. Hoje é responsável pela estratégia Big Boss e as segundas-feiras toma café enquanto escreve o Granaê.
  • Samuel

    Também sou área de tecnologia e tenho uma opinião um pouco diferente que vocês, pelo simples fato de que não é garantido que uma pessoa vai sempre acertar as alocações, assim como uma pessoa não terá condições de analisar longos históricos para cálculos estatísticos de forma rápida e claro, concordo que um robô pode errar. No final das contas todos podem errar.

    Em outas palavras, tanto um robô quanto uma pessoa pode se equivocar e cabe a cada um escolher onde acha melhor alocar seus recursos.

    Afinal, quem nunca fez um investimento equivocado?

    Bons investimentos e um abraço.

    • André Franco

      Samuel, obrigado pelo comentário.

      Você tem razão, tanto humanos quanto robôs vão errar (eu mesmo erro, e muito!). A diferença está no modo como os dois erram.

      Um robô advisor não vai capturar grandes crescimentos de ações e vai errar “médio”.

      Com errar “médio”, eu quero dizer que vai errar em uns pontos e perder pouco, mas também quando acertar, vai acertar “médio” e ganhar pouco.

      A nossa ideia, assim como do Nassim Taleb, é adotar uma estratégia antifrágil (barbell strategy), que ainda não é contemplada pelo robô.

      Essa estratégia, aliada com o conhecimento que podemos adquirir, permite que o investidor não tenha que sempre “acertar” as alocações, mas possa errar várias vezes pequeno (perdendo pouco), desde que quando acertar, ganhe MUITO.

      Nós entendemos que assim você tem um potencial muito maior de ganhar dinheiro.

  • Paulo Souza

    Muito bom o post, não usei robôs ainda e agora com essas dicas, vou ficar mais atento.