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Aprenda a investir subindo na balança

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19 de outubro de 2017
5 minutos de leitura
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Uma ação funciona igual ao seu peso

 

Pedro começou uma dieta faz pouco tempo. Na verdade, é um momento de virada para ele.

Fim de fast food, refrigerantes e sobremesa depois do almoço e início de crossfit e frango com batata doce. Bem coisa de maromba.

Ah, claro, e whey pra ajudar a construir os músculos.

O que desencadeou essa nova fase foi uma simples subida na balança.

“O quê?! 83,5kg?”

Pedro tem 1,70m e, depois que começou a trabalhar no banco como analista junior, só engordou.

Seu peso em si nem era um absurdo, mas o incomodava. Nove quilos e meio a mais que no verão anterior. Já estava precisando comprar camisas maiores, porque aquelas Dudalinas slim fit tamanho P já o desafiavam a fechar todos os botões.

Com a nova dieta e a fadiga – digo, rotina – de treinos no crossfit, estava pronto (e meio paranoico) para emagrecer de vez.

Pedro estava tão a fim que decidiu que iria controlar tudo nos mínimos detalhes. Como mandava bem no excel, decidiu montar uma planilha.

Todos os dias, às 7h da manhã, Pedro tirava o pijama e subia na balança. Se pesava e então anotava o valor na planilha. Assim ele poderia ver exatamente como seu peso evoluía.

Fez isso durante 4 semanas, até que finalmente chegou a seu peso desejado: 74kg.

Ufa! Finalmente. Pedro não pesava isso desde Fevereiro do ano anterior.

Ele então resolveu colocar os valores diários de peso em um gráfico.

Para sua surpresa, não era uma linha reta. Era um zigue-zague descendente.

 

 

Mas o que importava para ele, de fato, era que estava com o peso desejado, igual ao que pesava logo antes de começar a engordar.

E sabe o que ele fez para comemorar?

Foi direto para a hamburgueria comer um duplo x-burguer com provolone enrolado no bacon.

Pronto para começar a engordar tudo de novo.

E quem sabe daqui um tempo começar um novo regime.

Sabe o que há de engraçado no caso do Pedro? O peso dele se comportou igual ao mercado de ações.

No final das contas, Pedro percebeu que seu peso era como a renda variável, oscilava mesmo que tivesse uma tendência definida, de diminuição.

Dê uma olhada no gráfico a seguir:

 

 

Esse é o comportamento das ações de Embraer (EMBR3) entre março e agosto do ano passado. Parece com o peso do Pedro? Sim!

Então temos uma primeira lição aprendida sobre o mercado:

Lição #1 – Ele oscila, em zigue zague

Por mais que Pedro tentasse manter um ritmo de emagrecer mais e mais, eventualmente entre um dia e outro engordava um pouco, para então depois perder mais peso ainda.

Além disso, se Pedro se pesasse mais de uma vez por dia, digamos uma vez pela manhã e uma pela noite, veria que no próprio dia seu peso mudaria.

Assim funciona também com uma ação (ou outro ativo de renda variável). Dentro do próprio dia seu valor varia.

Essa é a segunda lição:

Lição #2 – Um ativo de renda variável varia de preço durante o dia. Quando seu fechamento tem um valor maior que a abertura, dizemos que terminou o dia em alta. Do contrário, em baixa.

Vamos mais a fundo. Lembra que o gatilho para Pedro buscar uma dieta e começar a emagrecer foi o fato de as suas camisas terem ficado apertadas?

Pois é, chamamos esse patamar, no caso de análise gráfica, deresistência. Nada mais é que uma barreira psicológica na qual as pessoas (no caso de investimentos, os investidores, o mercado) se lembram que se trata de um pico de valor e pode desencadear, por exemplo, um processo de queda.

De forma similar, quando se chega a um patamar tão baixo que você se lembra dele como uma referência, ele é chamado desuporte. No caso dos preços de ações, é como um fundo do poço, onde o preço pode quicar e começar a subir. No caso de Pedro, foi lembrar que no ano anterior ele pesava 74kg e, agora, finalmente bateu o mesmo peso. E voltou a engordar.

Lição #3 –   Existem barreiras psicológicas no mercado. Os “chãos”, quando o preço cai e quica de volta são chamados de suportes. Os “tetos”, quando um ativo chega a um certo preço que todo o mercado “lembra” que é alto, se chamam resistências.

Por último, houve dias em que Pedro perdeu mais peso e outros em que perdeu menos. Ou seja, em alguns dias emagreceu mais rápido do que em outros. Mais uma vez, muito parecido com renda variável:

Lição #4 – alguns movimentos podem ser mais bruscos, outros mais suaves. Isso mostra a volatilidade do mercado.

Juntando tudo isso, é possível ter uma visão um pouco mais clara de como os preços se movimentam no mercado. É claro que essa é uma abordagem simplista, mas na verdade a parte mais importante se resume a isso:

  • Como os preços oscilam, com tendência de alta ou baixa

  • Quais são as barreiras psicológicas de preço que podem influenciar ou até reverter essas tendências

  • Qual é a intensidade de cada movimento

Isso é o que chamamos de análise técnica, ou análise gráfica. Existe outro lado, que usamos muito mais aqui no Investeaê, que é a análise fundamentalista. No caso de Pedro, seria olhar os fundamentos que o farão emagrecer. Por exemplo: se ele está seguindo a dieta e fazendo exercícios que queimam calorias, temos uma boa base de fundamentos para dizer que o peso dele vai diminuir.

Na hora de analisar investimentos, você pode usar um lado ou outro. Ou ambos. E assim selecionar em quais ativos investir.

No caso do Pedro, ele já se decidiu: quer virar trader.

Um abraço!

Vinicius Bazan

 

Sobre o Autor:

Engenheiro pela USP, com passagem pela New York University, Vinícius passou anos de sua carreira atuando como professor nas mais diversas áreas. Trouxe para o Investeaê seu background em didática e estruturação de conteúdos educacionais para ampliar a experiência dos leitores, alunos e assinantes do Investeaê. É o responsável principal pelo curso Ações Extraordinárias, produz análises para o relatório Premiere Stocks e escreve semanalmente a newsletter Fator M.