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[Granaê] A mão invisível do Estado

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9 de outubro de 2017
4 minutos de leitura
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As várias faces da inflação

A festa que ficou mais cara

 

Eu nasci em uma capital e sempre fui acostumado a ver pessoas reclamando sobre o aumento dos preços e também me acostumei a falar: “Caramba, tá tudo caro”.

Mas assim que me mudei para o interior de São Paulo, para fazer faculdade, eu me deparei com uma realidade obscena de preços de festa. O primeiro lote de uma festa open bar no início de 2010 custava incríveis R$ 8.

Eu lembro de ver o cartaz da festa e desacreditar que esse era o preço, ou que era open bar. Fazendo as contas mentalmente eu sabia que se fosse a uma festa por semana eu gastaria menos de R$ 35 reais por mês.

Como eu disse, era uma realidade obscena. E o dinheiro que eu recebia dos meus pais para passar o mês dava e sobrava, sem nenhum problema.

Começou a não dar

 

Gradativamente o dinheiro que sempre dava pra tudo passou a não dar mais. Se antes eu não tinha que fazer contas para saber se podia comer em um determinado lugar, passei a ter que fazê-las.

E esse foi o meu primeiro contato, como estudante universitário, com uma das faces da inflação, a desvalorização do dinheiro. Isso porque eu tinha o mesmo dinheiro de sempre, mas já não dava pra fazer as mesmas coisas.

A festa open bar já estava em R$ 12 e os preços de outros produtos pareciam que tinham crescido no mesmo ritmo. Em 5 anos (2010 a 2014) de faculdade a inflação acumulada do país (IPCA) foi de 27 por cento.

É como se pouco a pouco eu fosse recebendo menos dinheiro e, ao fim de 5 anos, meus pais tivessem aplicado um desconto de mais ou menos 27 por cento na minha grana em relação ao que recebia no início.

As outras faces da inflação

 

Essa é só uma das formas de enxergar a inflação, mas existem outras formas. Uma delas é como a mão invisível do Estado. Pois ele é o responsável por imprimir mais dinheiro e se tivermos muitas notinhas na rua, elas naturalmente vão perder o valor.

E o Estado tem um motivo muito bom para imprimir mais verdinhas: pagar suas dívidas sem ter que aumentar os impostos para a população.

Mas peraí, se ele imprime dinheiro e todo o dinheiro em circulação perde valor, na verdade ele toma dinheiro da população sem que ninguém veja. Exatamente! Por isso a inflação é a mão invisível do Estado.

Hum…Na verdade, o Estado não aumenta os preços de nada, pelo menos não em uma situação de livre comércio. Quem aumenta os preços são os comerciantes. Então se eles não aumentarem os preços, a inflação não existirá. Brilhante!

Nem tanto.

O comerciante não é o culpado

 

O que acontece é que o comerciante não é o culpado, ele apenas reage aos preços altos que teve que pagar pela mercadoria e as revende por um preço maior.

Se você colocar o comerciante como vilão, pode pensar que deveria obrigá-lo a vender por um preço limite e então tudo estaria resolvido.

Pior que já tentaram isso e não deu certo. No império de Diocleciano, 301 d.C, houve um congelamento de preços e por justificativa foi usada a ganância desenfreada dos comerciantes.

Isso mesmo, uma das vítimas foi colocada na cena do crime com a arma e sangue nas mãos. Uma completa armação para o culpado jogar a culpa em outra pessoa.

O Brasil já tentou isso

 

Sarney, quando presidente, também tentou essa política no Brasil. Mas nem em Roma, nem aqui, nem em nenhum lugar isso deu certo.

Claramente a inflação não é o problema de fato, ela é a reação de uma política econômica. E por si só ela não é totalmente ruim, pois quando está sobre controle, é o motor natural da economia.

Inclusive os países com inflação zero ou deflação sofrem para alcançar uma inflação mínima que possibilite o crescimento da economia.

O Brasil historicamente sempre teve inflação e possuir uma estável faz parte da política monetária nacional.

E como consequência, as pessoas sempre reclamarem que as coisas estão caras faz parte da identidade nacional. O nosso “caramba, tá tudo caro” é quase um patrimônio cultural.

Abraços.

Sobre o Autor:

Desde o terceiro ano de faculdade decidiu que mais importante do que se formar em Engenharia era se tornar um empreendedor. Por isso participou de várias iniciativas e em uma delas foi mentorado por um ano pelo board de Healthcare da General Eletrics. Hoje é responsável pela estratégia Big Boss e as segundas-feiras toma café enquanto escreve o Granaê.