Muito se fala sobre a concorrência entre Nubank e Digio, dois cartões de crédito sem anuidade. Para mim, o vencedor é óbvio.
Durante meus anos de faculdade, com a grana contada, ter um cartão de crédito próprio não passava muito pela minha cabeça. Eu até poderia conseguir um na minha agência, dentro do pacote universitário, mas o limite seria tão baixo que não faria muita diferença, além de ter mais tarifas para pagar.
Colocando na ponta do lápis, não fazia sentido ter um cartão. O problema era quando eu precisava comprar algo pela internet e precisava do cartão de outra pessoa (meu pai, claro) emprestado.
Hoje, porém, é bem mais fácil ter acesso a um cartão de crédito sem pagar anuidade e com um limite que te permite pagar mais do que um jantar por mês. Isso tudo graças a iniciativas como do Nubank, uma das startups mais promissoras no Brasil.
O roxinho, como passou a ser chamado pelos “Nus”, funciona como um cartão de crédito internacional, com vantagens e características bastante interessantes, como comentamos em um artigo só sobre ele.
O Nubank nadou de braçada no mercado brasileiro, sozinho por um bom tempo, até começarem a surgir concorrentes, como é o caso do Digio, cartão de crédito com proposta bastante similar, emitido pelo Banco CBSS.
A partir daí, sites de notícias, blogs, páginas no Facebook começaram a falar muito sobre ambos, principalmente trazendo a ideia de que o Digio é um concorrente para o Nubank.
Para mim, a verdade é que essa concorrência é até desleal. Temos muito claro quem leva a melhor. É sobre isso que falo a seguir.
Nubank vs. Digio: time roxo contra azul
Em essência, sim, ambos são cartões de crédito e, no fim das contas, te permitem a mesma coisa: comprar.
Após o Nubank ter feito bastante barulho entre os brasileiros, especialmente jovens, o Digio surgiu sem muito de novo a oferecer.
Parecendo uma cópia (até a cor é parecida), a dinâmica é a mesma: você solicita um cartão, se é aprovado, recebe em casa e controla tudo através de um app.
Até aí, o Digio poderia sim “roubar” parte dos clientes do Nubank. Inclusive, o que se notou foi muita gente optando pelo cartão azul como uma alternativa, já que a fila para conseguir o roxinho era longa.
Se comparamos em relação a tarifas e serviços, também é bastante parecido. Diferenças surgem nos seguintes quesitos:
- Nubank está testando um programa de fidelidade próprio, enquanto o Digio planeja oferecer um programa terceirizado, como Multiplus ou Smiles;
- No Nubank, é possível antecipar o pagamento de parcelas de uma compra e obter desconto no valor final;
- O Digio está ligado a um banco, o CBSS, cujos sócios são Banco do Brasil e Bradesco. Já o Nubank é independente.
Inovação vs. Novidade
Startups nascem para chutar o balde. O propósito maior dessas (geralmente) pequenas empresas que buscam um crescimento explosivo é criar inovação, disrupção.
Em qualquer área, elas surgem para desafiar modelos estabelecidos, propor novos olhares para aquilo que já existe ou nos dar um par de óculos para enxergarmos aquilo que ainda não foi criado.
O Nubank é, essencialmente, uma startup de serviços. Vieram com tudo para propor uma nova experiência do usuário quando se fala em possuir e utilizar um cartão de crédito.
Só que quando falamos de inovação, estamos falando de criações. Para algo ser criado, muito lixo precisa existir também. É aquela velha imagem que temos na cabeça de um escritor que, para chegar ao livro ideal, rabiscou, rasgou, amassou 100x mais folhas.
Criar inovação passa, então, por um processo de propor algo novo que cause impacto. Foi isso que o roxinho fez.
De outro lado, quando pegamos uma inovação e copiamos, modificamos levemente para caber em uma nova caixinha, de uma nova cor, isso é apenas novidade.
Novidade chama atenção. Mas apenas por um minuto, até perceberem que não há nada de realmente empolgante ali.
Essa é minha sensação com o Digio. Funciona igual o Nubank, se comporta igual o Nubank, é oferecido igual o Nubank. Não vejo muita vantagem aí. Aliás, pela experiência usando ambos, o Nu dá um show: melhor experiência, melhor atendimento, mais limite no crédito.
Já deu errado outras vezes
Veja, eu nem estou tão preocupado em comparar o possível programa de fidelidade de um com o de outro, só para saber qual vai me trazer mais vantagens. Meu foco principal, uma vez que ambos têm zero anuidade (e essa é a proposta-base dos dois), é qual deles que daqui pra frente terá a capacidade de oferecer a mim, cliente, um melhor serviço.
Se as duas empresas prestam serviços, eu vou com quem tem a inovação em seu DNA. Não é a primeira vez que uma empresa grandona copia uma startup. Inclusive, em várias outras ocasiões, os grandões não levaram a melhor.
Um exemplo clássico é o embate entre Facebook e Google Plus. A rede social de Mark Zuckerberg vinha voando, criada em um quarto do dormitório da faculdade e propondo um novo formato de interação entre os usuários.
Veio então a gigante Google para fazer a sua versão e, anos depois, você só tem perfil no Google Plus para usá-lo no cadastro em outros sites.
O ponto central é: uma empresa que tem a inovação no sangue vai te proporcionar uma melhora constante de experiência no serviço, ano após ano. Já aquela que só estiver chupinhando um modelo de sucesso vai mudar as cores e a embalagem e dificilmente irá te surpreender.
Ah, se você notou alguma semelhança com o caso Nubank vs. Digio, não é mera coincidência. De um lado, temos uma startup. Do outro, uma empresa sobre os ombros dos bancões engessados.
Fico Nu ou fico azul?
Você pode ficar pensando “não me importa a inovação, quero pagar o mínimo possível e quero um cartão”.
Você tem toda razão. Nós, enquanto clientes de um serviço essencialmente financeiro, queremos o menor preço possível e algo que funcione.
Se o principal para você for ter um cartão de crédito com um limite bacana, é legal lembrar que existem também outros cartões de fácil acesso fora os dois desse texto.
Em um modelo um pouco diferente, pois estão ligados a uma conta-corrente, existem opções como:
- Banco Original: banco essencialmente digital, com cartão de crédito sem anuidade no primeiro ano. Ele vale mais a pena se você tem mais grana ou se conseguir concentrar boa parte dos seus gastos no cartão de crédito;
- Banco Intermedium: já falamos sobre ele no nosso artigo sobre contas digitais, que são contas correntes sem tarifa. Com uma conta no intermedium, você recebe um cartão de débito que pode ser ativado na função crédito;
- Banco Neon: também uma proposta interessante de conta digital, vinda de uma empresa jovem que respira inovação. Nele, você recebe dois cartões: um físico e um virtual. O físico é de débito e o virtual pode ser usado para compras na internet como um de crédito, porém o valor da compra é debitado na hora da sua conta.
Com várias opções, cabe a você decidir o que conta mais pontos para você. Com zero tarifa, você pode inclusive ter mais de um para testar.
Minha recomendação, do lado do seu controle financeiro, é apenas que você escolha um cartão para concentrar suas compras. Assim você controla o descontrole.
Grande abraço.
*As imagens foram retiradas de freepik.com, flaticon.com e dos sites dos cartões de crédito – Nubank e Digio